Talvez o mais intuitivo meio de comunicação seja mesmo aquele cumprimento que dirigimos às pessoas enquanto andamos pela rua ou passamos no meio de uma rodinha de estranhos sem saber direito onde enfiar a cara. Embora em raras ocasiões ainda persistam os provincianos: "olá, como vai?" e "oi, tudo bem?", no mais das vezes os tipos que predominam são os assobios, sussuros e as variações do "oi", geralmente acompanhadas por gestos e feições caricatas.
Quem nunca ouviu aquele famoso "ôba"? É o cumprimento típico dos que fazem questão de dar impressão positiva, juntamente com o "beleza!". O estranho mesmo é quando se encontram algumas dessas pessoas num bar, por exemplo: vira aquele “oba-oba!”
Já para os interioranos, não é segredo mais aquele sonoro "ôa", por certo contração do já mencionado "ôba". Provém, certamente, de uma tendência especial do interior saudosista em ver bois e carroças por toda parte. É a chamada neurose da mula empacada, também explícita no "ôpa!" ou simplesmente "ô". Não é à toa que os rodeios estão na crista da onda.
Principalmente entre os jovens é notável a presença do já consagrado "e aí?". A gente nunca sabe se o cara está entusiasmado no meio de uma estória ou perguntando se vai chover. Ultimamente o "e aí?" já tem suas variações também. Um exemplo típico é o gesto com as mãos em “hangloose” balançando igual dança do diabinho doido. Parece que o sujeito está dizendo: "te ligo depois..." Os adeptos do "e aí?" normalmente cultuam também o "tudo jóia?" ou o "joinha?", do mesmo time do "ôba", em versão de joalheiro cafona.
Para os hipocondríacos, o mais viável sempre foi o "tá bão?" ou o "firme?", ao qual os sarristas prontamente respondem: "não, é novela mesmo!". Já os tímidos detestam os partidários do "fala!". Esses, ao que parece, são ouvintes do antigo programa do Zé Bettio: "Fala, Zé! Falo, falo sim."
Há ainda um outro grupo, os nominalistas. Eles não cumprimentam ninguém, apenas dizem o nome do interlocutor. Legal, você encontra o sujeito e ele diz pra você quem você é! Melhor mesmo quando dois desses se encontram. Como um deles já disse o nome do outro, o segundo fica sem saída e tem que agregar algo mais ao cumprimento. Normalmente tudo acaba em “tá bão?”. Sem obter resposta, claro.
Uma característica especial dos presidentes é sua originalidade na recriação do cancioneiro dos cumprimentos e saudações. Quem não se recorda do "brasileiros e brasileiras" ou "minha gente"? Igualmente redundantes.
Há também o clássico dos clássicos: o "oi" - também com variantes. Uma delas é a palavra soluçada em solavanco tímido, quase inaudível - muito comum quando se cumprimenta de soslaio, só pra não parecer orgulhoso. Outra é o som prolongado em cada uma das vogais desse ambíguo ditongo (“ô-í”), e temos então um hiato recém-nascido. Claro que a lista de variações não se esgota aí, basta ver o “oi-ê”, dentre outros.
Principalmente as adolescentes, e os rapazes com um toque de frescura, adoram o "oiii!", geralmente acompanhado por sorrisos de hipopótamo e gestos de limpador de pára-brisa com os braços. As mais recatadas preferem o "oooi!", fazendo biquinho e curvando-se levemente para trás. E, também, através da união desses dois tipos, surge o chamado "oi orgasmático": ensolarado, longo e pastoso. É o delírio dos encontros entre amigas cínicas que se odeiam. Já entre as mais carinhosas predomina o "ôo", da família do "ôba". É representante digno da a chamada mania de cuco aprendendo canto gregoriano. Imagine uma gangue dessas se encontrando ao meio dia!
O assobio, característico em homens, é um caso interessante. Dependendo do tom e ritmo designa a pressa ou o estado emocional de quem o emite. Os apressados e os introvertidos preferem substituir qualquer outro cumprimento por um assobio minúsculo, quase inaudível. Tem gente que usualmente assobia em dois tempos, sendo que os homens têm cuidados especiais para diferenciar um assobio do outro e não acabar dando um "fiu fiu" pra outro marmanjo.
Além desses tipos, dentre tantos igualmente interessantes e não menos cômicos, podemos notar ainda a crescente tendência à mímica compulsiva, predominantemente nos jovens. Certo dia, por exemplo, caminhando pela rua, encontrei um colega a quem entoei meu velho, bom e inflacionário: "tudo bem, cara?". Pensei que ele fosse me responder o resignado “tamo aí, né!?”. Mas, ele balançou o tronco em retirada, emitindo um sonoro polegar direito em riste, mudíssimo. Fiquei meio sem jeito e fiz o mesmo. Afinal das contas: "Quem não se comunica..."
(Publicado originalmente no jornal "O Democrático", em Dois Córregos)
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Emerson Donizeti Batista. Tecnologia do Blogger.
5 comentários:
Fala Querido,
vc continua escrevendo divinamente.
Um grande abraço do seu amigo de colegial
Fabiano Chiovatto
Emerson, mas que surpresa boa um comentário que não seja do eixo dança-palpite-achismo, rs, meu blog é multifacetado pelo meu humor e opinião- e muitas vezes palpites mesmo - poxa, fique a vontade para visitarsempre que quiser e puder. A Dança é como a Vida, você vai perceber isso logo,logo. Adorei a definição do 'oi orgasmático' e o lance do assobio. Como não sei assobiar, sempre invejei meus irmãos cumprimentando os amigos assim, e, realmente dá pra perbecer uma penca de sentimentos num simples assobio... adorei teu canto, voltarei mais vezes! ps: me formei em Bauru!
Estou de cara nova e postanto também no meu novo blog: www.floresdoserido.blogspot.com
Beijos e saudade
Grata pelo seu comentário. Também achei interessante essa postagem, o tom de humor que conseguiu imprimir numa realidade comum.
Um abraço.
Olá, Emerson!
Obrigada pela visita!
O seu blog é bem legal e vc escreve lindamente. Adorei os seus sonetos!
Grande abraço,
Patrícia Lara
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